2 de dezembro de 2010

A matemática nos cartoons

Quando as garotas conquistam bons resultados em Matemática, isto é atribuído a esforço e dedicação. Quer dizer, elas se saem bem porque trabalham muito e obedecem regras. Por sua vez, ao justificar o sucesso dos meninos, seus professores e professoras invocam características como potencial, capacidade e brilhantismo.

Não nos surpreendemos quando crianças e adolescentes em idade escolar reclamam de terem de estudar Matemática, pois reconhecemos este saber pelos múltiplos sentidos historicamente construídos na cultura, que convergem em caracterizá-lo como um campo especialmente difícil. Ocorre que os conhecimentos matemáticos são tomados como complexos a priori e, conseqüentemente, os sujeitos bem sucedidos neste campo - que obtêm boas notas e se interessam por ele ­- são considerados gênios talentosos.
Walkerdine (1995), em sua pesquisa sobre garotas e a Matemática, nos mostra o quanto as descrições de professores e professoras sobre o desempenho de seus alunos e alunas são inteiramente construídas na cultura e diferenciadas segundo uma lógica sexista. Por exemplo, quando as garotas conquistam bons resultados em Matemática, isto é atribuído a esforço e dedicação. Quer dizer, elas se saem bem porque trabalham muito e obedecem regras. Por sua vez, ao justificar o sucesso dos meninos, seus professores e professoras invocam características como potencial, capacidade e brilhantismo. A pesquisadora afirma: ?é praticamente mais fácil para um camelo passar pelo buraco de uma agulha que uma dessas garotas ser considerada brilhante em Matemática? (p. 215).
Esses sentidos de complexidade do conhecimento matemático, de que Matemática seja algo para poucos ?iluminados?, entre outros equivalentes, fazem parte da cultura popular, continuam a ser produzidos e circulam quotidianamente, por exemplo, em cartuns, histórias em quadrinhos, bandas desenhadas, tiras, charges e outras historinhas publicadas nas páginas de jornais e revistas.
Na pesquisa A produção de significados sobre Matemática nos cartuns (Silveira, 2002), analisei cartuns e quadrinhos publicados em jornais, em revistas e na Internet. Nesse estudo, procurei mostrar, inspirada em teorizações do campo dos Estudos Culturais, que os cartuns, enquanto texto cultural, ensinam não só os conteúdos que eles abordam em seus argumentos, mas também muitas outras coisas. Em relação a um conjunto inicial de aproximadamente 160 cartuns que tratam de Matemática, apresentando em seus argumentos conteúdos da matemática escolar - simbologia da linguagem matemática, propriedades ou teoremas, problemas matemáticos, fórmulas e outros conhecimentos reconhecidos como típicos do saber, do raciocínio e do pensamento matemáticos ? defini, para fins de análise, três focos. No primeiro, a metanarrativa da onisciência, observei aqueles significados que conferem ao conhecimento matemático um caráter diabólico, complexo, inacessível, transcendental, totalizante, que apresentam a crença de que o mundo é matematizado segundo leis divinas. Em o gênero da Matemática, mostro aqueles que, opondo as mulheres aos homens, posicionam estes últimos num pólo privilegiado de raciocínio e aquelas num pólo oposto, deficitário, generificando a área da Matemática, definindo-a como masculina, assim como se generifica o trabalho docente como feminino. No terceiro foco, o terror das provas, identifiquei aqueles que se dedicam a mostrar os momentos de avaliação, nas aulas de Matemática, sempre povoados por sentimentos de desespero, medo, pavor e sofrimento.

Fonte da pesquisa: http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=136&doc=10240&mid=2

Um comentário:

  1. Decidimos trazer esta informacao e postar por que e um assuntos que vem sendo discutido por muitas pessoas dizendo que o homem e que tem " o dom da matematica " e as mulheres so conseguem isso com muito esforco. Troussemos esta discussao para mostra que muitas vezes isso ocorre ao inverso pois muitas meninas tem mais facilidade do que os meninos em resolver questoes matamaticas.

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